Jakob
Robert Schneider (*)
Basicamente,
as constelações procuram responder a duas perguntas. A primeira é: “O que
enreda nas famílias umas pessoas no destino de outras e o que as libera de tal
enredamento?” A segunda: “Como pode o amor ser bem sucedido?” Estas perguntas
se desdobram de várias maneiras no trabalho com as constelações. Em nossos
relacionamentos e, portanto, em nossa alma, estamos profundamente ligados a
outras pessoas, principalmente nas trocas importantes em nossa vida, entre o
dar e o receber. Acontecimentos passados, mesmo remotos no espaço e no tempo,
continuam produzindo seus efeitos em nossa alma, em nossas vivências e
sentimentos, em nosso pensamento e ação, estejamos ou não conscientes deles.
Todos sabemos disso, e esse conhecimento
acompanha as pessoas, como o atestam seus testemunhos escritos.
O que
nos prende uns aos outros? O que sucede quando queremos desprender-nos desses
vínculos, se isso realmente é possível? De que maneira eles nos conduzem? Como
nos ajudam ou nos prejudicam? Quando nos prejudicam, somos realmente capazes de
desprender-nos? De que maneira? O que nos liga aos mortos e o que nos desprende
deles? O que nos prende a uma velha dor, a uma culpa antiga, a um velho pavor,
não só de nossas vivências pessoais, mas também de outras pessoas que amamos e
às quais pertencemos? Como podemos livrar-nos de necessidades antigas e da
compulsão de repetir coisas dolorosas, que invadem nossas novas situações de
vida com eventos passados que ainda precisamos dominar?
O que
importa nas constelações familiares é a superação de traumas, não apenas
daqueles que resultaram de experiências pessoais, mas principalmente de traumas
de outras pessoas a que nos ligamos pela compaixão, por um amor muitas vezes cego e por um cego desejo de uma compensação,
deslocada no tempo e no espaço. O tema
das constelações são o amor e suas consequências: o masculino e o feminino,
a relação entre pais e filhos, o fluxo da vida e do amor entre as gerações e os
fatores que o inibem. Nas constelações encaramos a vida e a morte, os acontecimentos
funestos e terríveis que irrompem em
nossa vida, a justiça, a culpa e a expiação, as vítimas e os perpetradores, os
bons e os maus, a verdade e a mentira, o segredo e as confidências imprudentes,
o ódio e a reconciliação, a retribuição no mal e no bem. O que está aí em jogo
é a união e a solidão, o retrospecto e a perspectiva, o contentamento e a
felicidade, o medo, a depressão e o desespero.
Contemplamos
tudo aquilo que constitui nossa vida interior em face dos acontecimentos de
peso em nossa vida. Procuramos ver o que nos ameaça e o que de algum modo nos
impede de realizar nossa vida. Procuramos ver o que nos toma um pouco mais
livres de problemas para o futuro. As constelações giram sobre o que nos vincula, como destino ou sorte
acidental, e sobre o que deriva de nossa responsabilidade, seja como for que
possamos ser livres. O que nos é determinado na vida? Como podemos deixar para
trás coisas passadas que se imiscuem entre nós e o nosso futuro, para que o
passado não desfigure nosso olhar para o futuro, mas antes o sustente? Que
“leis” atuam pelo destino e que “ordens”
contribuem para o sucesso do amor? Como
podemos chegar a um bom termo entre as forças que vinculam nossa alma e nossa
mente e as forças que as liberam? Todas estas perguntas comparecem nas
constelações, encaixadas em contextos sistêmicos.
As respostas não são buscadas no nível pessoal
e autônomo do indivíduo, mas no contexto das relações familiares e sociais e
dos eventos que as influenciam. Naturalmente, sempre se trata do amor. Apesar
de toda a funcionalidade da reprodução e do crescimento, das condições
biológicas, das leis físicas e de outras normas imanentes aos sistemas, apesar
de tudo o que assegura ao nosso corpo e ao nosso cérebro a sobrevivência e a
transmissão dos genes, o amor é a
qualidade básica da vida humana e do que chamamos de “alma”.
AMOR DE VÍNCULO E EMARANHAMENTO
Em
virtude de nossa geração e de nosso nascimento, e pela necessidade que temos
dos grupos para sobreviver e crescer, somos reciprocamente ligados nesses
grupos, de um modo profundo e geralmente inconsciente. A força anímica que,
precedendo qualquer amor pessoal, mantém unidos os grupos para gerar, sustentar
e desenvolver a vida, é o amor de vínculo. Esse amor é uma força que provê a
consciência moral, que está a serviço da sobrevivência do grupo e da
transmissão e do desenvolvimento da vida, sem que precisemos pensar a respeito
e planejar algo com essa finalidade. A energia e os efeitos desse amor de
vínculo podem ser sentidos - muitas vezes, de uma forma impressionante - nas
constelações familiares, nos processos em que há um emaranhamento.
Está
envolvido, ou enredado, aquele que, sem o querer ou mesmo perceber, revive
compulsoriamente o destino de outras pessoas em sua família ou em seu grupo, ou
direciona cegamente a própria vida, em domínios essenciais, para identificar-se
com destinos alheios. O amor de vínculo, que encara o indivíduo apenas em sua
função para a sobrevivência do grupo, entra num duplo conflito: de um lado, com
o instinto individual de autopreservação, pelo qual um grupo se mantém e se
reproduz às custas do egoísmo individual; e, de outro lado, com a simpatia com
que os membros individuais do grupo se percebem e inter-relacionam, como
pessoas que amam. As forças do vínculo, conscientes ou inconscientes, atuam
sobre nossa consciência. O conhecimento da forma de atuação dessas forças,
comandadas pelo destino, é imprescindível para a compreensão e para a prática
das constelações familiares.
A descoberta e a descrição, recentes e atuais,
desses processos de vínculo e emaranhamento anímico através da consciência
constituem, talvez, juntamente com os caminhos de solução reconciliadores e
integradores, o principal mérito de Bert Hellinger.
(*)Jakob Robert Schneider - Diplomado em
Filosofia, Teologia, Educação Física e Pedagogia. Trabalha com aconselhamento
individual e de casais e com terapia de grupo.
Membro do IAG, comunidade internacional para o desenvolvimento do
trabalho sistêmico nos moldes de Bert Hellinger.