segunda-feira, 24 de outubro de 2016

DESABAFO: CONSTELAÇÃO FAMILIAR É RELIGIÃO?

Por Ana Lucia Braga (*)
Esse é um texto que já deveria ter escrito. Pensei que a fase dos conflitos e confrontos já havia passado em minha vida e que talvez um texto como esse pudesse provocar a sensação de conflito, confronto. Contudo, não é essa minha intenção.
Tenho clientes e alunos. Sou Formadora, professora desde sempre. E talvez, por essa razão, grite mais forte dentro de mim a necessidade de escrever.
Não sou espírita. Nem católica, nem evangélica. Não frequento nenhum templo. Não tenho religião. No entanto, sou profundamente religiosa. Oro, rezo, medito, na mais humilde crença de que Deus, Pai, Senhor, me ouve e me abençoa.
Trabalho com constelações sistêmicas: familiares, educacionais, organizacionais. E amo meu trabalho. Como intervenção terapêutica, terapia  brevíssima, busco atender pessoas, não religiões. E atendo pessoas de todos os credos, e tenho alunos evangélicos e católicos.
E reconheço o tamanho do poder desse trabalho.
Vivo no Brasil, um país católico, evangélico, macumbeiro, umbandista, candomblecista, budista, espírita. E, especialmente nos grandes centros urbanos, encontramos famílias, pessoas de outras tantas religiões.
Pergunto: quais delas são reencarnacionistas?
Quantas pessoas, apesar do grande sincretismo religioso no Brasil, acreditam em vidas passadas e reencarnação? Acreditam, sim, pois religião é crença. E crença é um ato de fé. É verdade parcial, não pode ser universalizada, dada a diversidade de seres humanos existente neste planeta.
Não tenho números precisos, mas sabemos, até por pesquisas do IBGE, que aqui neste país, a população evangélica cresce imensamente, a cada ano. Estima-se que hoje, mais de 26% da população brasileira seja evangélica. Somados a outros não reencarnacionistas, talvez mais de 1|3 da população do país (e do mundo) não crê em vidas passadas.
Meus sentimentos, nesse momento, são de tristeza e decepção. Um trabalho tão sério, tão curador... preconizamos o restabelecimento do fluxo amoroso em todos os sistemas. O fluxo amoroso entre a alma individual e a alma coletiva através das Ordens do Amor. E elas envolvem a Lei da Hierarquia, do Equilíbrio e da Pertinência. Pertinência quer dizer que quando há exclusões, há sofrimento. Que ninguém pode ficar de fora. Que todos têm o direito de fazer parte.
Assumir uma postura reencarnacionista não seria promover a exclusão?
A quem servimos?
Emaranhamento quer dizer não localidade. O que quer dizer que simplesmente não precisamos saber de onde o grande sofrimento vem. Temos a ressonância mórfica de Rupert Sheldrake para nos ancorar nesse sentido. A Epigenética, a lealdade e os envolvimentos sistêmicos, a linguagem da física quântica... portanto, para quê colocar as constelações no campo do espiritismo? Para quê dizer que “isso é de vidas passadas”?
Essa linguagem agrega ou desagrega?
Segrega?
Inclui ou exclui?
Une o que está separado ou separa ainda mais?
Falar de processo energético, de movimentos do espírito, de consciência espiritual, de consciência, entre tantas outras palavras possibilitadoras de grandes aprendizados, nas constelações, não seria suficiente para trazer ao cliente as informações necessárias, o que ele realmente necessita para a ação, para a resolução, para a cura, a tomada de consciência?
Dizer, no entanto, que se trata de problemas relacionados a vidas passadas está a serviço de quem? De que?
O que será do Campo das Constelações?
O passado nos interessa sim. É com ele que estamos emaranhados.
E para não me alongar mais, penso ser lamentável a inserção das constelações familiares no campo do espiritismo ou de qualquer outra religião.

(*) Ana Lucia Braga- é terapeuta de constelações sistêmicas familiar e organizacional. Atua também como terapeuta individual em sua clínica em Ribeirão Preto. Autora do livro: CONSTELAÇÃO FAMILIAR- Relato de Conflitos e Soluções.

e-mail:  anaabbraga@gmail.com

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