Por Ana Lucia Braga (*)
Esse é um texto que já deveria ter escrito. Pensei que a fase
dos conflitos e confrontos já havia passado em minha vida e que talvez um texto
como esse pudesse provocar a sensação de conflito, confronto. Contudo, não é
essa minha intenção.
Tenho clientes e alunos. Sou Formadora, professora desde
sempre. E talvez, por essa razão, grite mais forte dentro de mim a necessidade
de escrever.
Não sou espírita. Nem católica, nem evangélica. Não frequento
nenhum templo. Não tenho religião. No entanto, sou profundamente religiosa.
Oro, rezo, medito, na mais humilde crença de que Deus, Pai, Senhor, me ouve e
me abençoa.
Trabalho com constelações sistêmicas: familiares,
educacionais, organizacionais. E amo meu trabalho. Como intervenção
terapêutica, terapia brevíssima, busco
atender pessoas, não religiões. E atendo pessoas de todos os credos, e tenho
alunos evangélicos e católicos.
E reconheço o tamanho do poder desse trabalho.
Vivo no Brasil, um país católico, evangélico, macumbeiro,
umbandista, candomblecista, budista, espírita. E, especialmente nos grandes
centros urbanos, encontramos famílias, pessoas de outras tantas religiões.
Pergunto: quais delas são reencarnacionistas?
Quantas pessoas, apesar do grande sincretismo religioso no
Brasil, acreditam em vidas passadas e reencarnação? Acreditam, sim, pois
religião é crença. E crença é um ato de fé. É verdade parcial, não pode ser
universalizada, dada a diversidade de seres humanos existente neste planeta.
Não tenho números precisos, mas sabemos, até por pesquisas do
IBGE, que aqui neste país, a população evangélica cresce imensamente, a cada
ano. Estima-se que hoje, mais de 26% da população brasileira seja evangélica.
Somados a outros não reencarnacionistas, talvez mais de 1|3 da população do
país (e do mundo) não crê em vidas passadas.
Meus sentimentos, nesse momento, são de tristeza e decepção.
Um trabalho tão sério, tão curador... preconizamos o restabelecimento do fluxo
amoroso em todos os sistemas. O fluxo amoroso entre a alma individual e a alma
coletiva através das Ordens do Amor. E elas envolvem a Lei da Hierarquia, do
Equilíbrio e da Pertinência. Pertinência quer dizer que quando há exclusões, há
sofrimento. Que ninguém pode ficar de fora. Que todos têm o direito de fazer
parte.
Assumir uma postura reencarnacionista não seria promover a
exclusão?
A quem servimos?
Emaranhamento quer dizer não localidade. O que quer dizer que
simplesmente não precisamos saber de onde o grande sofrimento vem. Temos a
ressonância mórfica de Rupert Sheldrake para nos ancorar nesse sentido. A
Epigenética, a lealdade e os envolvimentos sistêmicos, a linguagem da física
quântica... portanto, para quê colocar as constelações no campo do espiritismo?
Para quê dizer que “isso é de vidas passadas”?
Essa linguagem agrega ou desagrega?
Segrega?
Inclui ou exclui?
Une o que está separado ou separa ainda mais?
Falar de processo energético, de movimentos do espírito, de
consciência espiritual, de consciência, entre tantas outras palavras
possibilitadoras de grandes aprendizados, nas constelações, não seria
suficiente para trazer ao cliente as informações necessárias, o que ele
realmente necessita para a ação, para a resolução, para a cura, a tomada de
consciência?
Dizer, no entanto, que se trata de problemas relacionados a
vidas passadas está a serviço de quem? De que?
O que será do Campo das Constelações?
O passado nos interessa sim. É com ele que estamos
emaranhados.
E para não me alongar mais, penso ser lamentável a inserção
das constelações familiares no campo do espiritismo ou de qualquer outra
religião.
(*) Ana Lucia Braga- é terapeuta de constelações sistêmicas
familiar e organizacional. Atua também como terapeuta individual em sua clínica
em Ribeirão Preto. Autora do livro: CONSTELAÇÃO FAMILIAR- Relato de Conflitos e
Soluções.
e-mail: anaabbraga@gmail.com
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