sábado, 15 de outubro de 2016

OS MORTOS


Na maioria das constelações familiares trata-se, de uma forma ou de outra, da vida e da morte. Dificilmente se encontra uma família onde a morte não tenha arrebatado um membro mais cedo do que julgamos ser justo.
Despedir-se dos mortos de um modo digno e consciente é extremamente importante para a saúde de nossa alma. Isso se percebe também pela energia e pelo esforço que se despendem na guerra para abrigar e sepultar dignamente os mortos. Os monumentos pelos que tombaram, exigidos em toda a Europa também dão testemunho disso.
Isso é perfeitamente compreensível pelo lado dos vivos; mas que também os mortos necessitem que os vivos saibam de sua morte e se despeçam deles é algo difícil de entender; pois nada sabemos sobre os mortos. Entretanto, nas constelações eles são representados por pessoas vivas, elas não podem representá-los, em sua realidade, como mortos, mas podem representá-los em seus efeitos sobre a alma dos vivos, na alma que liga os vivos e os mortos, mesmo para além da morte. Pelo comportamento muitas vezes surpreendente dos representantes dos mortos e pela força que deles provém, em muitas constelações, podemos apenas pressentir que aí atuam forças mais poderosas do que podemos imaginar com a nossa maneira habitual de considerar os mortos.
Estas perguntas são essenciais quando se trabalha com constelações: onde é que um morto foi excluído da lembrança e do amor dos vivos?
Onde é que os vivos estão separados de um morto por uma discórdia ou por uma situação não resolvida, de modo que o morto continua atuando na alma como um excluído e sem descanso? Quem na família teve uma morte súbita e continua apegado à alma dos vivos, como se não tivesse morrido e como se o processo de sua morte não tivesse se completado.
Com relação aos mortos que não estão em paz na alma da família e, por isso, parecem não estar realmente mortos, o trabalho das constelações se assemelha muitas vezes a um ritual xamânico.
Através dos representantes, acontecem encontros entre vivos e mortos, como também de mortos entre si. Isso ajuda para que os mortos não precisem manifestar-se como “fantasmas” ou “assombrações” para encontrar sua paz. Ajuda também para que possa fluir no coração dos vivos o amor entre vivos e mortos e, - na medida em que o possamos afirmar – também nos mortos entre si e para os vivos. Através dessa conexão anímica, os mortos podem morrer, e os vivos podem viver. Num filme sobre o trabalho de curandeiros do Nepal perguntou-se a um curandeiro quem, entre as pessoas da vizinhança, procurava um médico e quem procurava um curandeiro. Ele respondeu: “Procura um médico quem tem uma doença comum. Procura um curandeiro quem não está em paz com um morto”.
Despedidas entre vivos e mortos, que não puderam acontecer na realidade, podem ser resgatadas nas constelações. Vários mortos ainda necessitam de uma palavra de paz e de liberação por parte de uma ou de mais pessoas vivas, e vários vivos ainda precisam da palavra libertadora de um morto. Há mortos aos quais é preciso repetir que estão mortos, para que deixem os vivos. Frequentemente os “mortos” só encontram paz quando se deitam tranquilamente ao lado de outros mortos, da mãe que morreu cedo, de um gêmeo natimorto, de um grande amor, de um assassino ou de camaradas de guerra mortos.

Texto de Jacob Robert Schneider - do livro ‘A Prática das Constelações Familiares’ – Atman Editora.

Um comentário:

  1. Olá, Mazé... muito feliz de visitar sua sala... Sobre a morte e vida, ambas estão em sintonia... os mortos pertencem e não devem ser excluídos... devem ser lembrados no coração, pois o hábito de honrar e respeitar passa de geração em geração... Forte abraço!

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