Na maioria das constelações familiares trata-se, de uma forma
ou de outra, da vida e da morte. Dificilmente se encontra uma família onde a
morte não tenha arrebatado um membro mais cedo do que julgamos ser justo.
Despedir-se dos mortos de um modo digno e consciente é
extremamente importante para a saúde de nossa alma. Isso se percebe também pela
energia e pelo esforço que se despendem na guerra para abrigar e sepultar
dignamente os mortos. Os monumentos pelos que tombaram, exigidos em toda a Europa
também dão testemunho disso.
Isso é perfeitamente compreensível pelo lado dos vivos; mas
que também os mortos necessitem que os vivos saibam de sua morte e se despeçam
deles é algo difícil de entender; pois nada sabemos sobre os mortos.
Entretanto, nas constelações eles são representados por pessoas vivas, elas não
podem representá-los, em sua realidade, como mortos, mas podem representá-los
em seus efeitos sobre a alma dos vivos, na alma que liga os vivos e os mortos,
mesmo para além da morte. Pelo comportamento muitas vezes surpreendente dos
representantes dos mortos e pela força que deles provém, em muitas
constelações, podemos apenas pressentir que aí atuam forças mais poderosas do
que podemos imaginar com a nossa maneira habitual de considerar os mortos.
Estas perguntas são essenciais quando se trabalha com
constelações: onde é que um morto foi excluído da lembrança e do amor dos
vivos?
Onde é que os vivos estão separados de um morto por uma
discórdia ou por uma situação não resolvida, de modo que o morto continua
atuando na alma como um excluído e sem descanso? Quem na família teve uma morte
súbita e continua apegado à alma dos vivos, como se não tivesse morrido e como
se o processo de sua morte não tivesse se completado.
Com relação aos mortos que não estão em paz na alma da
família e, por isso, parecem não estar realmente mortos, o trabalho das
constelações se assemelha muitas vezes a um ritual xamânico.
Através dos representantes, acontecem encontros entre vivos e
mortos, como também de mortos entre si. Isso ajuda para que os mortos não
precisem manifestar-se como “fantasmas” ou “assombrações” para encontrar sua
paz. Ajuda também para que possa fluir no coração dos vivos o amor entre vivos
e mortos e, - na medida em que o possamos afirmar – também nos mortos entre si
e para os vivos. Através dessa conexão anímica, os mortos podem morrer, e os
vivos podem viver. Num filme sobre o trabalho de curandeiros do Nepal
perguntou-se a um curandeiro quem, entre as pessoas da vizinhança, procurava um
médico e quem procurava um curandeiro. Ele respondeu: “Procura um médico quem
tem uma doença comum. Procura um curandeiro quem não está em paz com um morto”.
Despedidas entre vivos e mortos, que não puderam acontecer na
realidade, podem ser resgatadas nas constelações. Vários mortos ainda
necessitam de uma palavra de paz e de liberação por parte de uma ou de mais
pessoas vivas, e vários vivos ainda precisam da palavra libertadora de um
morto. Há mortos aos quais é preciso repetir que estão mortos, para que deixem
os vivos. Frequentemente os “mortos” só encontram paz quando se deitam
tranquilamente ao lado de outros mortos, da mãe que morreu cedo, de um gêmeo
natimorto, de um grande amor, de um assassino ou de camaradas de guerra mortos.
Texto de Jacob Robert
Schneider - do livro
‘A Prática das Constelações Familiares’ – Atman Editora.
Olá, Mazé... muito feliz de visitar sua sala... Sobre a morte e vida, ambas estão em sintonia... os mortos pertencem e não devem ser excluídos... devem ser lembrados no coração, pois o hábito de honrar e respeitar passa de geração em geração... Forte abraço!
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