segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O PROCESSO DE CONSTELAÇÕES DE BERT HELLINGER

Por Waldomiro Sesso Filho

O Filósofo alemão Bert Hellinger iniciou os estudos para estruturar o trabalho de Constelações Familiares, após sua experiência como missionário na África.
Nesse continente se deparou com uma realidade que o mobilizou profundamente a partir da experiência com 2 comportamentos: o respeito entre as pessoas - todos se respeitavam mutuamente na comunidade e se apoiavam. O segundo aspecto que o impressionou foi o respeito em relação aos antepassados. Estes eram reverenciados e sempre eram “consultados” quando as pessoas precisavam realizar alguma decisão, estavam em algum conflito interno.
Percebendo que seu repertório de conhecimento não permitia que oferecesse ajuda a população africana da comunidade que se estabeleceu, Bert retornou à Europa e inicia uma série de estudos. Estuda Psicanálise, Psicodrama, Fenomenologia, Terapias Tribais, etc. e inicia a organização dessa nova ciência chamada Constelações, que é construída aos poucos a partir da aplicação, por Bert, de sua nova técnica a grupos familiares.
Na construção desse novo conhecimento Bert identificou a existência de 3 leis que regem os sistemas e que representam a base do trabalho sistêmico, porém antes de falar sobre essas leis, considero importante mencionar como Bert chegou ao nome “Constelações Familiares”.
Ao aplicar o trabalho de Constelações Bert realizou um registro bem sistemático das imagens que os representantes formavam em cada movimento do trabalho e ao analisar essas imagens percebeu que os grupos familiares formavam uma figura em que as pessoas estavam posicionadas umas em relação a outras, como se estivessem em uma Constelação. Por aplicar seu trabalho inicialmente a grupos familiares, atribuiu o nome de Constelações Familiares.
Com o passar do tempo, Bert expandiu a aplicação do seu trabalho a outros grupos, além dos grupos familiares, ampliando a aplicação a qualquer sistema. Assim, sistema nesse trabalho é considerado como que um grupo de coisas ou pessoas que estão vinculados por integrarem um grupo que tem um objetivo em comum. O objetivo comum mais frequente nos sistemas é a preservação da vida ou a perpetuação do grupo. Nesse caso são considerados sistemas – famílias, escolas, empresas, os cidadãos de um país, os trabalhadores de uma determinada categoria profissional, uma equipe em uma empresa, uma filial em uma empresa e todos os demais grupos que reúnam 2 ou mais pessoas ligadas por um propósito em comum. A todos esses sistemas o trabalho de Constelações é aplicável.
Bert Hellinger também identificou há um fluxo que vincula as pessoas que integram um sistema. Um “campo de energia” que torna os vínculos intensos. Chamou a esse fluxo de “ordens do amor”. São as ordens de amor que permitem que as famílias se perpetuem, são as ordens de amor que permitem que as organizações mantenham seu foco de atuação. É em função das ordens de amor que as pessoas realizam atos de profundo amor, sendo ás vezes da forma apropriada, com belos exemplos de generosidade e desprendimento ou ainda, em função desse mesmo amor, cometem atrocidades ou realizam atos com profundo desrespeito. Essas situações serão comentadas mais para frente.
Voltando às leis que regem os sistemas, como mencionado, são 3:
1)Direito de Pertencer – todas as pessoas têm direito a pertencer a diversos sistemas, sendo o primeiro deles a família que a pessoa nasce. Depois a criança cresce e ganha o direito de pertencer ao sistema de uma sala de aula, em uma escola. Automaticamente já integra o sistema da cidade em que nasceu, do país em que nasceu. Com o passar do tempo, essa pessoa assume uma profissão com base em sua experiência ou com base nos estudos que a qualifica a exercer a profissão.  Para integrar uma empresa, o princípio é o da competência. A competência é o recurso que a pessoa tem que a autoriza a integrar um sistema numa empresa. Assim, se ganha o direito a se pertencer a vários sistemas ao mesmo tempo.
2)Respeito à ordem ou à hierarquia – os sistemas apresentam uma determinada hierarquia que organiza as pessoas em níveis. Por exemplo, numa família a hierarquia é vista nos níveis que seus integrantes estão, onde os pais estão num nível acima do nível dos filhos. O que os pais precisam conversar entre eles, como responsáveis pela família, pode ter a opinião dos filhos, mas cabe exclusivamente aos pais para tomar a decisão. Podem, ao tomar uma decisão, ouvir os pontos de vistas dos filhos, mas cabe aos pais tomar uma decisão que seja para a família. Entre os que estão no mesmo nível, os filhos, os que chegam primeiro têm mais direitos que os que chegam depois. Esses princípios também valem para uma empresa. As decisões são tomadas num nível acima da hierarquia. O gestor pode ouvir a opinião da equipe, mas cabe a ele a tomada de decisão. No caso de uma promoção, se dois funcionários têm igualdade de competência para um cargo, aquele que está a mais tempo deve ficar com o novo cargo (importante reforçar a igualdade de competência).
3)Equilíbrio de Troca – para que um sistema funcione adequadamente é necessário que exista o equilíbrio de troca entre as pessoas. Uma pessoa faz algo que agrada a outro integrante do sistema. Nesse momento quem recebeu fica na posição de “devedor” e quem deu fica na posição de “credor”. O “devedor” se mobiliza de forma a retribuir o que recebeu, passando a ficar na posição de “credor”. Nessa troca de posições entre “devedor” e “credor” é que ocorrem as trocas entre as pessoas num sistema. As pessoas buscam inconscientemente o equilíbrio entre as duas posições. Numa empresa o equilíbrio é estabelecido a partir da remuneração do profissional pelas competências que tem ou pelos resultados que entrega. Se a empresa não aplica adequadamente uma boa remuneração, com a postura de explorar os funcionários, a relação fica desequilibrada e para compensar várias reações podem ocorrer no funcionário – ausência por motivos pouco relevantes, doenças sem gravidade que impedem de trabalhar o mês todo, chegando até a cometer pequenos roubos, de coisas que não farão falta para a empresa, como exemplo – algumas canetas de baixo custo, folhas de papel para realizar a impressão em casa, impressão de arquivos pessoais, etc.
Reflita um pouco sobre essas 3 leis que você tomou conhecimento e identifique em sua vida situações que essas leis foram aplicadas da forma apropriada ou não. Você já pode estar pensando: “O que ocorre quando alguém não segue essas leis ?” “Quais são as consequências disso ?”
Quando essas leis não são seguidas pelas pessoas que integram um sistema, várias consequências são geradas, principalmente o enfraquecimento do vínculo entre as pessoas do sistema. Mas mais que isso, gera o que chamamos de emaranhamento. É algo como um coágulo no que chamamos de ordens de amor que diminui o fluxo das “ordens de amor” entre as pessoas do meu sistema. Seguem alguns exemplos comuns de situações que geram emaranhamentos:
ü A exclusão de um membro da família sem um motivo aparente;
ü O abandono de uma criança para uma instituição ou para outra família;
ü A exclusão de um membro da família na herança;
ü Um filho tomar uma decisão que cabe ao pai – pedir que a mãe se separe do pai (ou o contrário);
ü Um funcionário que critica sempre as decisões que o chefe toma e estimula os colegas a irem contra o chefe;
ü A esposa que comete traição (ou o marido que comete também);
ü O irmão mais novo que vai contra o irmão mais velho;
ü O irmão que não tem o direito de participar da empresa da família;
ü A demissão injusta de um funcionário, etc.

Assim, essas são situações de desrespeito entre pessoas que geram os emaranhamentos nos sistemas e isso gera as repercussões para as pessoas de um sistema, de uma família.
Quais são essas situações ? São todas as situações que nos impedem de viver plenamente, por exemplos: conflitos nas famílias (entre marido e mulher, entre pais e filhos ou entre os filhos), doenças que se repetem nas famílias como o câncer, a diabete ou doenças de difícil diagnóstico, dificuldades financeiras constantes, onde as despesas por emergências são constantes, impedem um planejamento e uma vida mais estável, equilibrada (não é necessário viver abastadamente, mas viver de forma equilibrada, satisfatória em relação ao dinheiro), dificuldade em se estabelecer relacionamentos afetivos equilibrados...enfim, qualquer situação que se repita na sua vida com constância e que principalmente impeçam que a sua vida seja vivida plenamente.
Para essas situações temos a total possibilidade de aplicar o trabalho de Constelações e oferecer uma ajuda profunda. E com isso podemos falar a respeito de como funciona o trabalho de Constelações.
O trabalho de Constelações visa possibilitar um caminho que permita a busca da plenitude através de um acesso para obter o equilíbrio em sua vida, reestabelecendo aquilo que foi rompido, colocando em ordem o que foi desorganizado e ainda permitindo que abra um caminho para promover a justiça a alguém que tenha sido injustiçado. Seja na geração em que você vive – seus avós (se vivos ainda), seus pais, seus irmãos, seus filhos ou nas gerações que já se passaram – seus bisavós, tataravós e outras gerações anteriores. Isso ocorre porque os sistemas apresentam tanto uma sabedoria como apresentam um equilíbrio e justiça, pois aquilo que não foi resolvido numa geração, fica como pendência para gerações futuras. Por essa questão que alguns problemas que se percebem em algumas famílias acometem integrantes de várias gerações. Pela experiência na condução dos trabalhos de Constelação podem-se viver essas situações de questões que se repetem nas famílias. É frequente identificar que questões que temos numa família, em uma pessoa, na verdade tem conexão com antepassados que tiveram algum tipo de desrespeito como os citados anteriormente.
Assim, o trabalho de Constelações acontece de forma grupal ou individual a partir da apresentação de uma questão. Uma questão que impeça a pessoa de viver plenamente, uma questão que esteja presente na vida da pessoa por muito tempo ou esteja presente na vida da família por muito tempo. A conexão com a questão será profunda e a pessoa sentirá qual deve ser a questão a ser apresentada.
Como as questões são relacionadas com a vida da pessoa, há personagens como os pais, os filhos, os avós, os irmãos. No trabalho em grupo são escolhidos representantes para esses personagens da vida. O trabalho de Constelação acontece com a contribuição desses representantes que reagem entre si e com isso movimentos ocorrem. Movimentos que revelam o que está por trás das questões apresentadas ou da questão apresentada.
O papel do terapeuta é tanto identificar o que está por trás dos movimentos que acontecem entre os representantes como buscar o equilíbrio no sistema. Esse equilíbrio é obtido a partir de frases que são ditas. As frases visam dar um lugar para quem foi excluído, visam colocar em ordem ou colocar o respeito na hierarquia ou ainda permitir que o equilíbrio da troca seja estabelecido.
Essas frases atuam como as agulhas de uma acupuntura, que visam reestabelecer o equilíbrio energético do nosso corpo. As frases visam dissolver o emaranhamento ou reestabelecer o fluxo das “ordens de amor” que vinculam as pessoas dentro de um sistema.
Esses são os princípios do belo trabalho sistêmico de Bert Hellinger. Todos esses conceitos são abrangentes e visam nutrir a necessidade que o Homem tem das informações. A verdadeira compreensão do trabalho sistêmico ocorre a partir do momento em que se vivencia ou se presencia um trabalho de Constelações, pois nesses casos a nossa alma é profundamente tocada pela questão de uma pessoa. Somos profundamente tocados tanto ao representar papéis num trabalho de Constelações ou de podermos estar presentes, refletindo sobre como a questão de uma pessoa é tão próxima de uma questão em minha vida.

Waldomiro Sesso Filho
Constelador, Coach.
(11) 97281-9001 / mirosesso@gmail.com

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