O Filósofo alemão Bert
Hellinger iniciou os estudos para estruturar o trabalho de Constelações
Familiares, após sua experiência como missionário na África.
Nesse continente se
deparou com uma realidade que o mobilizou profundamente a partir da experiência
com 2 comportamentos: o respeito entre as pessoas - todos se respeitavam
mutuamente na comunidade e se apoiavam. O segundo aspecto que o impressionou
foi o respeito em relação aos antepassados. Estes eram reverenciados e sempre
eram “consultados” quando as pessoas precisavam realizar alguma decisão,
estavam em algum conflito interno.
Percebendo que seu
repertório de conhecimento não permitia que oferecesse ajuda a população
africana da comunidade que se estabeleceu, Bert retornou à Europa e inicia uma
série de estudos. Estuda Psicanálise, Psicodrama, Fenomenologia, Terapias
Tribais, etc. e inicia a organização dessa nova ciência chamada Constelações,
que é construída aos poucos a partir da aplicação, por Bert, de sua nova
técnica a grupos familiares.
Na construção desse
novo conhecimento Bert identificou a existência de 3 leis que regem os sistemas
e que representam a base do trabalho sistêmico, porém antes de falar sobre
essas leis, considero importante mencionar como Bert chegou ao nome
“Constelações Familiares”.
Ao aplicar o trabalho
de Constelações Bert realizou um registro bem sistemático das imagens que os
representantes formavam em cada movimento do trabalho e ao analisar essas
imagens percebeu que os grupos familiares formavam uma figura em que as pessoas
estavam posicionadas umas em relação a outras, como se estivessem em uma
Constelação. Por aplicar seu trabalho inicialmente a grupos familiares,
atribuiu o nome de Constelações Familiares.
Com o passar do
tempo, Bert expandiu a aplicação do seu trabalho a outros grupos, além dos
grupos familiares, ampliando a aplicação a qualquer sistema. Assim, sistema
nesse trabalho é considerado como que um grupo de coisas ou pessoas que estão
vinculados por integrarem um grupo que tem um objetivo em comum. O objetivo
comum mais frequente nos sistemas é a preservação da vida ou a perpetuação do
grupo. Nesse caso são considerados sistemas – famílias, escolas, empresas, os
cidadãos de um país, os trabalhadores de uma determinada categoria
profissional, uma equipe em uma empresa, uma filial em uma empresa e todos os
demais grupos que reúnam 2 ou mais pessoas ligadas por um propósito em comum. A
todos esses sistemas o trabalho de Constelações é aplicável.
Bert Hellinger também
identificou há um fluxo que vincula as pessoas que integram um sistema. Um
“campo de energia” que torna os vínculos intensos. Chamou a esse fluxo de
“ordens do amor”. São as ordens de amor que permitem que as famílias se
perpetuem, são as ordens de amor que permitem que as organizações mantenham seu
foco de atuação. É em função das ordens de amor que as pessoas realizam atos de
profundo amor, sendo ás vezes da forma apropriada, com belos exemplos de
generosidade e desprendimento ou ainda, em função desse mesmo amor, cometem
atrocidades ou realizam atos com profundo desrespeito. Essas situações serão
comentadas mais para frente.
Voltando às leis que
regem os sistemas, como mencionado, são 3:
1)Direito de Pertencer
– todas as pessoas têm direito a pertencer a diversos sistemas, sendo o
primeiro deles a família que a pessoa nasce. Depois a criança cresce e ganha o
direito de pertencer ao sistema de uma sala de aula, em uma escola.
Automaticamente já integra o sistema da cidade em que nasceu, do país em que nasceu.
Com o passar do tempo, essa pessoa assume uma profissão com base em sua
experiência ou com base nos estudos que a qualifica a exercer a profissão. Para integrar uma empresa, o princípio é o da
competência. A competência é o recurso que a pessoa tem que a autoriza a
integrar um sistema numa empresa. Assim, se ganha o direito a se pertencer a
vários sistemas ao mesmo tempo.
2)Respeito à ordem ou à
hierarquia – os sistemas apresentam uma
determinada hierarquia que organiza as pessoas em níveis. Por exemplo, numa
família a hierarquia é vista nos níveis que seus integrantes estão, onde os
pais estão num nível acima do nível dos filhos. O que os pais precisam
conversar entre eles, como responsáveis pela família, pode ter a opinião dos
filhos, mas cabe exclusivamente aos pais para tomar a decisão. Podem, ao tomar
uma decisão, ouvir os pontos de vistas dos filhos, mas cabe aos pais tomar uma
decisão que seja para a família. Entre os que estão no mesmo nível, os filhos,
os que chegam primeiro têm mais direitos que os que chegam depois. Esses
princípios também valem para uma empresa. As decisões são tomadas num nível
acima da hierarquia. O gestor pode ouvir a opinião da equipe, mas cabe a ele a
tomada de decisão. No caso de uma promoção, se dois funcionários têm igualdade
de competência para um cargo, aquele que está a mais tempo deve ficar com o
novo cargo (importante reforçar a igualdade de competência).
3)Equilíbrio de Troca
– para que um sistema funcione adequadamente é necessário que exista o
equilíbrio de troca entre as pessoas. Uma pessoa faz algo que agrada a outro
integrante do sistema. Nesse momento quem recebeu fica na posição de “devedor”
e quem deu fica na posição de “credor”. O “devedor” se mobiliza de forma a
retribuir o que recebeu, passando a ficar na posição de “credor”. Nessa troca
de posições entre “devedor” e “credor” é que ocorrem as trocas entre as pessoas
num sistema. As pessoas buscam inconscientemente o equilíbrio entre as duas
posições. Numa empresa o equilíbrio é estabelecido a partir da remuneração do
profissional pelas competências que tem ou pelos resultados que entrega. Se a
empresa não aplica adequadamente uma boa remuneração, com a postura de explorar
os funcionários, a relação fica desequilibrada e para compensar várias reações
podem ocorrer no funcionário – ausência por motivos pouco relevantes, doenças
sem gravidade que impedem de trabalhar o mês todo, chegando até a cometer
pequenos roubos, de coisas que não farão falta para a empresa, como exemplo –
algumas canetas de baixo custo, folhas de papel para realizar a impressão em
casa, impressão de arquivos pessoais, etc.
Reflita um pouco
sobre essas 3 leis que você tomou conhecimento e identifique em sua vida
situações que essas leis foram aplicadas da forma apropriada ou não. Você já
pode estar pensando: “O que ocorre quando alguém não segue essas leis ?” “Quais
são as consequências disso ?”
Quando essas leis não
são seguidas pelas pessoas que integram um sistema, várias consequências são
geradas, principalmente o enfraquecimento do vínculo entre as pessoas do
sistema. Mas mais que isso, gera o que chamamos de emaranhamento. É algo como
um coágulo no que chamamos de ordens de amor que diminui o fluxo das “ordens de
amor” entre as pessoas do meu sistema. Seguem alguns exemplos comuns de situações
que geram emaranhamentos:
ü
A
exclusão de um membro da família sem um motivo aparente;
ü
O
abandono de uma criança para uma instituição ou para outra família;
ü
A
exclusão de um membro da família na herança;
ü
Um
filho tomar uma decisão que cabe ao pai – pedir que a mãe se separe do pai (ou
o contrário);
ü
Um
funcionário que critica sempre as decisões que o chefe toma e estimula os
colegas a irem contra o chefe;
ü
A
esposa que comete traição (ou o marido que comete também);
ü
O
irmão mais novo que vai contra o irmão mais velho;
ü
O
irmão que não tem o direito de participar da empresa da família;
ü
A
demissão injusta de um funcionário, etc.
Assim, essas são
situações de desrespeito entre pessoas que geram os emaranhamentos nos sistemas
e isso gera as repercussões para as pessoas de um sistema, de uma família.
Quais são essas
situações ? São todas as situações que nos impedem de viver plenamente, por
exemplos: conflitos nas famílias (entre marido e mulher, entre pais e filhos ou
entre os filhos), doenças que se repetem nas famílias como o câncer, a diabete
ou doenças de difícil diagnóstico, dificuldades financeiras constantes, onde as
despesas por emergências são constantes, impedem um planejamento e uma vida
mais estável, equilibrada (não é necessário viver abastadamente, mas viver de
forma equilibrada, satisfatória em relação ao dinheiro), dificuldade em se
estabelecer relacionamentos afetivos equilibrados...enfim, qualquer situação
que se repita na sua vida com constância e que principalmente impeçam que a sua
vida seja vivida plenamente.
Para essas situações
temos a total possibilidade de aplicar o trabalho de Constelações e oferecer
uma ajuda profunda. E com isso podemos falar a respeito de como funciona o
trabalho de Constelações.
O trabalho de
Constelações visa possibilitar um caminho que permita a busca da plenitude
através de um acesso para obter o equilíbrio em sua vida, reestabelecendo
aquilo que foi rompido, colocando em ordem o que foi desorganizado e ainda
permitindo que abra um caminho para promover a justiça a alguém que tenha sido
injustiçado. Seja na geração em que você vive – seus avós (se vivos ainda),
seus pais, seus irmãos, seus filhos ou nas gerações que já se passaram – seus
bisavós, tataravós e outras gerações anteriores. Isso ocorre porque os sistemas
apresentam tanto uma sabedoria como apresentam um equilíbrio e justiça, pois
aquilo que não foi resolvido numa geração, fica como pendência para gerações
futuras. Por essa questão que alguns problemas que se percebem em algumas
famílias acometem integrantes de várias gerações. Pela experiência na condução
dos trabalhos de Constelação podem-se viver essas situações de questões que se
repetem nas famílias. É frequente identificar que questões que temos numa família,
em uma pessoa, na verdade tem conexão com antepassados que tiveram algum tipo
de desrespeito como os citados anteriormente.
Assim, o trabalho de
Constelações acontece de forma grupal ou individual a partir da apresentação de
uma questão. Uma questão que impeça a pessoa de viver plenamente, uma questão
que esteja presente na vida da pessoa por muito tempo ou esteja presente na
vida da família por muito tempo. A conexão com a questão será profunda e a
pessoa sentirá qual deve ser a questão a ser apresentada.
Como as questões são
relacionadas com a vida da pessoa, há personagens como os pais, os filhos, os
avós, os irmãos. No trabalho em grupo são escolhidos representantes para esses
personagens da vida. O trabalho de Constelação acontece com a contribuição
desses representantes que reagem entre si e com isso movimentos ocorrem.
Movimentos que revelam o que está por trás das questões apresentadas ou da
questão apresentada.
O papel do terapeuta
é tanto identificar o que está por trás dos movimentos que acontecem entre os
representantes como buscar o equilíbrio no sistema. Esse equilíbrio é obtido a
partir de frases que são ditas. As frases visam dar um lugar para quem foi
excluído, visam colocar em ordem ou colocar o respeito na hierarquia ou ainda
permitir que o equilíbrio da troca seja estabelecido.
Essas frases atuam
como as agulhas de uma acupuntura, que visam reestabelecer o equilíbrio
energético do nosso corpo. As frases visam dissolver o emaranhamento ou
reestabelecer o fluxo das “ordens de amor” que vinculam as pessoas dentro de um
sistema.
Esses são os
princípios do belo trabalho sistêmico de Bert Hellinger. Todos esses conceitos
são abrangentes e visam nutrir a necessidade que o Homem tem das informações. A
verdadeira compreensão do trabalho sistêmico ocorre a partir do momento em que
se vivencia ou se presencia um trabalho de Constelações, pois nesses casos a
nossa alma é profundamente tocada pela questão de uma pessoa. Somos
profundamente tocados tanto ao representar papéis num trabalho de Constelações
ou de podermos estar presentes, refletindo sobre como a questão de uma pessoa é
tão próxima de uma questão em minha vida.
Waldomiro
Sesso Filho
Constelador,
Coach.
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